A opinião de ...

Não havia necessidade...

Findo, felizmente, o período de incêndios, antes do final de agosto, o país viveu em suspenso, nas última semanas, salivando pelo anúncio prometido de medidas contra a inflação.
Finalmente, na segunda-feira à noite, fazendo concorrência a uma importante entrevista com o Papa Francisco conseguida pela CNN Portugal, o Primeiro-Ministro lá fez o anúncio, com pompa e circunstância.
E aquilo que foi possível constatar é que, em política, o aparato substitui, cada vez mais, a substência.
Sem estar a dissertar sobre os valores anunciados (125 euros a cada português que ganhe menos de 2700 euros brutos ou 50 euros por cada jovem dependente até aos 24 anos), cada um saberá julgar se é muito ou pouco para a sua carteira, não é possível, contudo, deixar de lamentar o artifício usado com as pensões e com a propalada descida do IVA da eletricidade.
Se é evidente que muitos pensionistas precisam de ajuda neste momento de inflação galopante, também não deixa de ser triste que António Costa tenha aproveitado um momento de fragilidade dos pensionistas e cidadãos para querer passar a perna aos cidadãos, que ainda há poucos meses deram um voto de confiança ao seu Governo, atribuindo-lhe maioria absoluta.
Segundo as contas feitas pelos economistas, o Governo vai dar em outubro um bónus de meia pensão, que será descontada nos aumentos de janeiro, que deveriam ser na mesma proporção da inflação (acima dos sete por cento).
Essa manobra vai ter reflexos a partir de 2024: pensões de 500 euros vão perder 261euros nesse ano e pensões de 1.500 euros perdem 785 euros.
De acordo com o Observador, esta é a quinta vez que a lei da atualização das pensões não é aplicada para travar um aumento (tinha acontecido durante o período da troika).
O mesmo acontece com a descida do IVA da eletricidade, uma das contas que mais assusta os portugueses neste momento. O apoio desenhado pelo Governo vai traduzir-se numa poupança mensal de 1,08 euros, que chega aos 1,62 euros para as famílias numerosas.
Sendo este um período de apreensão para as famílias, com aumentos de despesas que não conseguem controlar (juros da prestação da casa ou conta da luz e do gás), dispensava-se este exercício de artista político do Primeiro-Ministro. Era escusado estar a enganar os portugueses, com uma chico-espertice com perna muito curta.
Querer fazer dos portugueses parvos é pior do que dar muito ou pouco em apoios. Não havia necessidade...

A entrevista do Papa Francisco à CNN Portugal, para além de um furo jornalístico, é de ver e rever pela forma como o Sumo Pontíficie comunica. Um Papa que vai deixar saudades.

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