A opinião de ...

Experiência falhada

Há uns meses, escrevi aqui neste espaço sobre a curiosidade que tinha acerca do resultado da escolha do empresário Elon Musk para tratar da modernização da administração pública americana.
A minha curiosidade advinha do facto de, muitas vezes, ser voz corrente que as máquinas dos Estados são pesadas e que os privados fazem sempre melhor.
Ora, entregar a tarefa da modernização a um empresário conhecido pelos seus métodos radicais na gestão dos recursos humanos à sua guarda permitiria perceber se, de facto, é assim tão fácil cortar as gorduras dos Estados ou, então, ficarmos esclarecidos de vez com as dificuldades que este tipo de tarefa acarreta.
O pouco tempo que a experiência se aguentou diz mais, se calhar, dos intervenientes (Donald Trump e Elon Musk) do que a experiência em si. Mas também não podemos deixar de correlacionar uma coisa com a outra.
Para já, fica a certeza de uma experiência falhada, em que a modernização administrativa de um Estado parece ter servido apenas para empobrecer o cidadão comum norte-americano em favor de meia dúzia de milionários que gravitam em torno do presidente americano.
Mas ficamos sem saber o que acontecerá no futuro a toda a informação que as equipas de assalariados de Elon Musk, dono de uma coisa chamada Facebook, que detém já muitos dados de milhões de cidadãos diariamente, recolheram dos diversos organismos públicos por onde entraram.
A informação é um bem cada vez mais valioso apesar de ser cada vez menos escasso.
Entidades como os serviços de finanças, concorrência, Transportes, etc, etc, detêm informação privilegiada dos cidadãos que, em mãos erradas, pode significar consequências muito nefastas.
Não podemos esquecer que o Facebook é a mesma entidade que, apesar de jurar a pés juntos, que não utilizava a informação dos seus clientes para maus fins, viu-se envolvido no escândalo da Cambridge Analytica, empresa a quem forneceu precisamente os dados dos seus utilizadores, que foram depois usados em diversas campanhas de desinformação, por exemplo.
O controlo dos cidadãos por parte dos Governos não é uma vontade de agora mas, se calhar agora como nunca antes, estão a ser dadas ferramentas a entidades duvidosas, algumas delas próprios Governos, que, com as evoluções na Inteligência Artificial Generativa, vão criar ferramentas muito controladoras para o cidadão.

É uma questão de ir estando atento ao que se passa do outro lado do oceano Atlântico para antecipar aquilo que um dia nos esperará.

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