A opinião de ...

2. Revolta Militar de 25 de Abril de 1974. Guerra de África 1961-1975!

Da NATO para o mato, em 1960 o Estado Novo assumiu a inevitabilidade de conflitos nos domínios africanos, assumindo estar em causa a integridade do território e a preservação do regime. A guerra irrompeu a 15 de março de 1961, quando as hordas da UPA de Holden Roberto acometeram as fazendas no Norte de Angola e chacinaram milhares de brancos e negros.
O que se assumiu, inicialmente, como uma campanha de pacificação, tornou-se guerra de desgaste estendida no tempo e no espaço: Angola desde 1961 através da UPA, MPLA e depois da UNITA; Guiné, 1963 com o PAIGC; Moçambique, 1964 via Frelimo. Na altura, as Forças Armadas Portuguesas (FFAA) contavam 79.000 efetivos, 73% dos quais pertencentes ao Exército, estando em Angola somente 6.500 militares – 1.500 europeus e 5.000 recrutados localmente. Contudo, em finais de 1961, 40.000 tropas metropolitanas foram projetadas para as três províncias e, no final do conflito, em 1974, Portugal tinha 217.000 homens em armas, dos quais 149.000 nos três palcos africanos. Para o efeito, houve a necessidade de um novo conceito de instrução e treino das forças e mentalizar e adequar o aparelho militar à tipologia irregular de conflito. Foram umas FFAA de massas, com elevados efetivos e baixo nível de equipamentos e armamentos, que combateu em África.
Dos princípios estratégicos salientava-se a luta pela população e nunca contra a população e que o combate à subversão não devia ser exclusivamente militar, nem feito unicamente pelas armas. Exigia-se a tranquilidade socioeconómica nos três territórios mediante coordenação entre as forças militares, as autoridades locais e as populações, por um lado, e entre aquelas e a parte diplomática, económica e psicológica. Militarmente evidenciava-se: 1) necessidade de implantação territorial (unidades de quadrícula) que efetuasse patrulhamento, proteção de itinerários e garantisse a segurança das populações negras, e cativar elementos afetos à guerrilha para posterior aplicação contra a mesma guerrilha; 2) existência de forças especiais de intervenção com elevada mobilidade, de forma a atuar contra formações inimigas; 3) sistema de informações integrado para aproveitamento adequado das notícias recolhidas.
Operando a partir de uma Base e com efetivos reduzidos, as guerrilhas exigiam dos seus combatentes rusticidade, mobilidade e adaptação ao terreno, que conheciam melhor do que as forças regulares, mais pesadas e mais lentas. Como norma, evitavam empenhar-se decisivamente, privilegiando as emboscadas a colunas militares, ataques a aquartelamentos e utilização de minas/armadilhas nos itinerários. No entanto, os laços tribais e antagonismos étnicos criavam fraturas entre os guerrilheiros e disputas entre as chefias, que minavam a disciplina e o moral, diminuindo-lhes a eficácia.
Já o aparelho militar português incorporava contingentes africanos em larga escala, tendo finalidades de autodefesa das populações e atuação como guias ou pisteiros, evoluindo para unidades operacionais. Relativamente ao seu crescimento, de início a percentagem média das tropas africanas no quadro das metropolitanas era de 20%, atingindo os 38,7% em 1974: triplicou em Angola (14,9%-42,4%); duplicou em Moçambique (26,8%-53,6%); na Guiné estabilizou nos 20%. Como a guerra se desenvolveu em terra, foi sobre o Exército que recaiu o esforço, competindo às forças navais e aéreas apoiar as operações terrestres. A Marinha efetuava a ligação entre a metrópole e África, garantindo apoio logístico e projeção de forças militares por mar. Em África controlava as vias fluviais, através de lanchas de fiscalização e desembarque. A Força Aérea, através de aviões e helis, desenvolvia ações de reconhecimento e fogo, efetuava transporte aéreo de pessoal, material e ainda evacuação de feridos.
Com resultados militares em 1974, em Angola as FFAAA controlavam cerca de 98% do território, considerando-se a província politicamente sustentada, socialmente estabilizada e militarmente controlada. Em Moçambique a guerrilha estava a ser combatida, contendo a Frelimo no eixo Niassa/Tete após a construção da barragem de Cahora Bassa. Na Guiné, de complexidade crescente, a iniciativa estratégica permanecia do lado português, a despeito da proclamação unilateral de independência em 1973 e dos acontecimentos ocorridos em Guilege. Porém, a durabilidade da guerra e a inação dos decisores políticos faria a diferença!

Edição
3973

Assinaturas MDB