Globalização: mudança radical
O modelo de globalização, praticado nas décadas transatas, jaz no leito de morte. Não precisamos de Marx ou de outro filósofo, embora o seu olhar nos desse muito jeito, para perceber o enredo. Não é Trump o causador da crise; quando muito, ele assestou uma estocada que parece fatal. As contradições avolumaram-se e atingiram um ponto de rotura. A ganância da acumulação de capital levou a cortar os direitos de quem trabalha e a exportar empresas e indústrias para paragens onde era mais fácil explorar a mão-de-obra barata. De repente o dito Ocidente acorda e dá conta de que tem de importar bens essenciais de países contestatários da hegemonia unipolar. Surge o recurso a ameaças, a sanções e tarifas. Eis o sinal de estertor da ordem imperial que dominou o mundo até aqui.
A multipolaridade está a nascer. Com ela, goste-se ou não, renascem as fronteiras e a ação político-económica dos governos. Ao mercado, livre de freios e acima de todas as alfândegas, contrapõe-se a proteção das conveniências indígenas. A elite financeira, que tem determinado o curso da trama no palco internacional, é obrigada a reconhecer centros de poder com pavilhão nacional.
Por mais que deitem a mão até a arame farpado para não se afogar, os blocos existentes vão submergir. Não faço ideia de como serão os substitutos vindouros. Mas não é difícil ver que a política já se encontra na antecâmara de uma mudança radical. A defesa dos interesses de cada nação assim o impõe. O nacionalismo, pese a conotação negativa da designação, regressa à cena. Não será feito de isolacionismo; inventará formas novas de associação e cooperação, ditadas por afinidades culturais e linguísticas ou outras. É hora para nós de renovar e dar um destino relevante à CPLP.