A opinião de ...

Os Pobres morrem mais cedo (2)

(Continuação da edição anterior)
Estas questões eram parte do largo leque de inquietações enumeradas por Noam Chomsky, no seu Who Rules the World? (U.E.A., 2016), que foi considerado “the standard among historians a hundred years from now”, e que disse do estudo de Charles Deber, que “este livro leva mais longe, de uma maneira acessiva e informativa, o “novo debate global sobre dinheiro e moral num mundo capitalista atribulado”. Este mundo atribulado foi-se desenvolvendo, depois da paz de 1945 e fundação da ONU, com a falha habitual de autenticidade: os princípios orientadores foram que vivíamos numa “terra casa comum dos homens, e por isso regulado em paz como um “mundo único”, isto é, sem guerras. O que aconteceu é que, neste ano de graça de 2018, mais de metade dos Estados membros da ONU não têm sequer capacidade para responderem aos desafios da natureza, terramotos, inundações, desordens internas, falta de quadros e de recursos, desencadeando movimentos migratórios que transformam o Mediterrâneo num cemitério, ou que os EUA mobilizem o exército para impedir que as migrações do sul americano entrem no seu território. Não omitirei que me parece que uma das causas se encontre no facto de os regimes coloniais dissolvidos depois da Carta da ONU o determinar, porque não deixaram ali regimes democráticos que a Carta presumia. Em todos eles, fosse qual fosse o soberano colonizador, este era representado por um Vice-Rei como o Reino Unido gostava, ou por um Governador ou Comissário, que detinha a totalidade dos poderes: legislativo, executivo, e até judicial. O modelo era o de Estado Extrativo, não do Estado democrático, e foi esse poder que as lideranças dos povos revoltados assumiram abrindo caminho para a violação da Declaração de Direitos, escrita apenas por mãos ocidentais. Há certamente uma insuficiente elite nativa, que sonha outros horizontes, que podemos, por simplificação, chamar ocidentalização. Entre nós, um dos melhores trabalhos que o regista é o livro do Professor Adelino Torres, felizmente entre nós, intitulado Vozes do Sul no Mundo Global: África, Médio Oriente, e outros lugares (Colibri, 2018), onde testemunhou, quanto aos muçulmanos, “os pensadores e políticos que também são alvo dos “loucos de Deus”, contando-se por milhares os assassinados nos últimos anos, e a juventude do continente africano que conta com a aparição de “autênticos filósofos”, que “abrirá caminho a uma nova modernidade”. Mas o tempo de espera será longo, as infrações dos direitos humanos pela resistência dos Estados Extrativos serão múltiplas, e “El desajuste del mundo”denunciado por Amin Maalouf, levará tempo a passar de “arena global” em que o globalismo se encontra, para uma governança finalmente estruturada, no caso de uma das “leviandades”, temidas por Bismark, não provocar um desastre também global. No entretanto este “mundo de desigualdades”, identificado por Charles Derber, está condicionado pela chaga que é “a maioria deserdada”, conduzida de regra à passividade pela circunstância que multiplica estudos como dos de Benjamin Wittes e Gabriella Blum sobre The Future of Violence, ou de Richard Bobbes (e outros) as mudanças tecnológicas, a crescente inquietação sobre Guerre et Strategie atentamente seguida por Stéphane Taillat, Joseph Henrdin e Olivier Schmit, ou de Joachim Koops (e outros) com o informativo The Oxford Handbook of United Nations sobre o acidentado precurso da organização para manter a paz. Mas no conjunto das componentes da “maioria deserdada” está o que Auriane Guilbaud, chamou – Santé, l’injustice majeure (L’État du Monde, 2016). Esta conclusão é assumida quando, neste ano de 2018, o famoso Yuval Noah Harari, viu o seu livro, que intitulou “21 lessons for the 21 Century”, resumido na edição portuguesa, quanto aos problemas que o globalismo enfrenta, deste modo: Criamos os mitos para unir a nossa espécie, domamos a natureza para que nos desse o seu poder, agora estamos a redesenhar a vida para que possamos alcançar os nossos sonhos mais ousados, mas será que ainda sabemos quem somos? Ou será que as nossas invenções acabarão por nos tornar irrelevantes? A questão final tem que ver com o conjunto de desafios e ameaças que conhecidamente nos atingem como espécie, designadamente uma eventual cascata nuclear guerreira, os anunciados cataclismos ecológicos, e a “epidemia de notícias falsas quanto à governança. Mas, logo a seguir á fome que agride multidões, cada ser vivo enfrenta o problema de saúde, chamado o da injustiça maior.
(Continu

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3708

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