A opinião de ...

As imigrações que buscam a Europa

Não podemos deixar de lembrar o visionário Agostinho da Silva, cujas obras completas estão em publicação, e que depois de ajudar a formar o Brasil Moderno, imaginou uma sementeira de centros culturais ao redor da Terra – Ceuta, Índia, Malaca, Goa, Macau, Brasília. Amarras da cultura portuguesa misegenada pelas distâncias, pelos tempos, pelas políticas. Nesta data, as comunidades de origem e cultura portuguesa marcam presença sobretudo na Europa em crise, porque esta não tem conceito estratégico, não teve política consistente do alargamento, está a aprender que mediu mal a capacidade de ter uma política de segurança e defesa autónomas. Ao lado dos perigos que nascem pelo facto de a Rússia ter perdido o regime mas não ter perdido a memória, ou da anarquia derivada das intervenções unilaterais como no Iraque e na Líbia, no facto de estar dividida pelo renascido limes do Império Romano em pobre e rica, à beira de um Mar mediterrânico que é um cemitério, tem ainda matérias de sobra para se inquietar com o terrorismo, que perdeu a natureza da Al-Qaeda para adotar a ameaçadora definição de Estado Islâmico, sobre o ter que se preocupar com a segurança das fronteiras, com a liberdade de circulação, e sobretudo com o erro que cometeu ao confundir a liberdade que assegurou o cosmopolitismo, com a anarquia que foi o uso do conceito adotado de multiculturalismo. O primeiro, engradeceu a Europa com o acolhimento dado aos sábios de todas as origens, permitindo-lhe um conhecimento do mundo e dos saberes alheios, mas o segundo servindo de porta aberta a um caudal de gentes diferenciadas em busca de melhor vida do que nas suas terras, mas que foram abusadas pela falta de respeito das leis do trabalho, pelas discriminações, eventualmente pela pobreza insuportável. Não eram, não tiveram tempo para ser comunidades, são apenas multidões que frequentemente assumem a violência, as reivindicações por vezes humanamente justas, e sobretudo sofrem da infelicidade que não é o melhor cimento de unidade das diversidades. São multidões, não são comunidades, uma diferença que as Ordenações do Reino praticavam para conseguir a integração que hoje temos. A Europa esqueceu a diferença.

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3542

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