A opinião de ...

MORTOS E VIVOS DAS GUERRAS

O livro, sobre “Grande Guerra e Guerra Colonial”, cujo autor Doutor Ricardo Ferraz, tem uma notável consagração universitária, incluindo a participação em várias instituições de investigação ou de ensino, suscitou uma atenção e consagração de ilustres universitários. Tratando de investigar e comparar os custos para os Cofres Portugueses, destacando as duas guerras mundiais do século XX, a primeira de 1914-1918, menos referida, e a de 1939-1945, mas muito principalmente a nossa guerra colonial tem uma síntese da longa investigação, que é a seguinte: “por um lado, as estimativas realizadas demonstram que os encargos com a Primeira Guerra Mundial foram autênticas “bombas orçamentais” no seu tempo, consumindo, em média, ao ano, perto de 50% das despesas públicas (o equivalente a 70% do PIB). Já no caso da Guerra Colonial, só os encargos com as forças militares extraordinárias, no Ultramar, significaram, em média, 22% da despesa do Estado em cada ano (3,1% do PIB); sinónimo de uma longa e perlongada perda para os cofres públicos. Nos dias que correm, não conseguimos imaginar o Estado Português com capacidades para gastar 50%, ou até mesmo 22% do seu Orçamento anual numa guerra; o que nos permite compreender melhor os esforços tremendos que então foram realizados. Com estes dois conflitos, Portugal terá dispensado no total, a preços correntes, entre 82,5 milhões de contos e 120 milhões de contos”. O Professor Álvaro Garrido, Professor Catedrático da Universidade de Coimbra na Faculdade de Economia, avaliou o trabalho com as seguintes palavras: “Este livro acrescenta à historiografia portuguesa conhecimento inédito sobre o impacto financeiro das guerras no Orçamento de Estado português… Os estudos de História e Economia de Ricardo Ferraz acrescentam a este lastro uma quantificação cuidada do peso absoluto e relativo da Grande Guerra e das guerras coloniais africanas na despesa pública.”; as opiniões dos Professores Nuno Valério (Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa), do Professor Álvaro Garrido (Catedrático da Faculdade de Economia de Coimbra), e Professor António Portugal Duarte, também da Universidade de Coimbra, fortalecem o valor científico e cívico do trabalho. No Prefácio, que me honrou o autor solicitar, notei que o saber demonstrado viria a tornar presente o comentário desde Popper sobre o que chamou “historismo”, e que Orwell advertiu no sentido de que “o passado é a coisa mais imprevisível do mundo, não para de se transformar”. O facto é que este importante estudo, sobre a Grande Guerra (1914-1918) e a Guerra Colonial (1961-1974), os meios devemos do “nosso passado recente, como a editora sublinha, implicam em tornar-se a porta de entrada para avaliar o “historismo” de Popper, e sobretudo a “circunstância” de Ortega, porque a relação do “historismo” do primeiro está desafiada pelos “cisnes negros” do segundo, que atacam o género humano globalmente com o exército do Covid-19. Não é senão fundado o facto de chamar um oficial das Forças Armadas a intervir, rigorosamente fardado um vice-Almirante, nem que os custos da guerra de 1914-1918 ou da Guerra Colonial venham desafiar, ao lado dos custos orçamentais, os custos da revisão da história do passado, que afetam o PIB do futuro. Em primeiro lugar a conclusão científica financeira, anuncia uma reação quanto ao historismo da primeira intervenção na ocidentalização do globo, propondo com simplicidade cívica a destruição do Monumento que destaca o Infante D. Henrique, Mestre da Ordem de Cristo, que foi sobretudo a versão sabedora dos cruzados que estavam em Portugal, e assim escaparam, com a inteligência de D. Diniz, à destruição francesa dessa Ordem. Por isso escritores de hoje chamam a Portugal o Primeiro Estado das Cruzadas. Também na Grande Guerra de 1914-1918, foi um soldado transmontano, o Soldado Milhões, que em França defendeu, só, o nosso exército, e ganhou a Torre e Espada, sendo conhecida a circunstância de o futuro Marechal Gomes da Costa honrar o modesto soldado transmontano, o notável combatente, prestando continência. Na Avenida da Liberdade, em Lisboa, foi construído um monumento a essa batalha. Durante anos, era eu criança, se fazia ali um desfile militar de homenagem, que foi suprimido, supondo o autor da decisão, porque “em nenhum país se celebra a derrota”: talvez tenha desconhecido que representava a coragem. Encontra-se quem pregue contra a homenagem aos combatentes da guerra do ultramar, está presente o monumento que, junto ao Tejo, lembra cada nome. A citação e associação, dos feridos e mutilados dessa guerra têm direito ao respeito dos que cumprem ordens, deveres, e amor à Pátria, e que continuam vivos sem lamentos, salvo o esquecimento. O tempo dos vivos tem um tempo tripartido; o passado histórico do grupo que se recebe sem benefício de inventário possível; o que cada geração acrescenta para legado da geração herdeira, tempo em que não viverá. É o caso das Nações. Nesta época, em que há países em que se exige o apagamento das honras aos mortos civicamente ilustres, como em França está a acontecer com Napoleão, quando a criminalidade destrói a Torres Gémeas e o Presidente Bush conclui que “é tarde para os homens, e cedo para Deus”, como se está a verificar no Norte de Moçambique, é tempo de lembrar que, para além dos custos, é necessário não esquecer os princípios. E, com convicção e segurança, pondo o “credo dos valores” acima do “credo dos interesses”. Este livro exige também um sério estudo deste tema.

Bragança
Junho de 2021

Edição
3839

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