A opinião de ...

Poema no Dia da Mulher (2)

Mulher, repara! Fez-se noite, de repente!
E a noite, maldosamente,
Aproveitou para esconder o mal que te feriu no peito!
E porque a noite é de breu, não há forma – não há jeito
– Penso eu – de encontrar aquele mal que te fez chorar
E que – diabólico – em situação tão insólita,
Naquele momento,
Desapareceu com o vento!

Por tal razão, quem poderá medir
A dimensão dessa terrível dor
Que sustenta o sofrimento e o intimou a ferir?
É que, por mais que digas com total firmeza
Que, no insossego do teu lar,
Foste molestada na tua natureza
(E mais ainda, impedida agora de o provar),
Há sempre quem duvide e não entenda
Esta forma de agredir,
Enquanto pensa que estás a mentir.

Entretanto, aquele que, de forma insidiosa,
Gerou tanto mal
Tal como o lobo e a raposa,
(Porque lhe foi permitido),
Continua a vigiar os teus passos,
Depois de, nos primeiros abraços,
Um grande amor ter fingido.

E então, parece que a tua sina é sofrer,
Porque as lágrimas que te esforças por conter
Não conseguem motivar nem demover
Quem as não sabe ou não quer compreender;
E mesmo, tendo o dever de julgar,
Tem dificuldade em perceber de repente
O pensamento dos rostos que tem em frente.

E assim, sem alguém que te defenda,
Continuas a sofrer,
Embora não desistas de tentar convencer
Quem dirime esta contenda
E não se importe de deixar criar-te um calvário
Para que, depois de arrastares a tua cruz,
Nele, suportes, lentamente, o agonizar
E leves contigo, em contraluz, a tua dor sepultar!

Por isso, naquele insossego do teu lar
– O lar que devia proteger-te –
Ou na selvática companhia de quem quer vencer-te,
Permite-me sugerir
Que não deixes definhar a tua ideia
Nem deixes de mostrar o valor que te assiste
E a tua vontade que resiste
Para que, mesmo sujeita a múltiplos perigos,
Consigas debelar a mentira e a força bruta
Dos teus dissimulados amigos!

Será que, algum dia, uma nobre consciência
Levará a acabar de vez com a demência
Que a teu respeito se fez
Por não ser duramente castigado
Todo o ignóbil que, em segredo, tem magoado
A tua sensibilidade, o teu sorriso de amizade,
A tua dedicação, o amor que jorra do teu coração,
A tua carne e a tua humanidade?

Como também toda a pessoa insensível
Que desvaloriza o direito de seres mãe
E, quer queira quer não,
Irá ser obrigada a aceitar a tua razão?

Acima de tudo, porém, quando será
Que todos os que te cercam
Irão reconhecer que tens de te afirmar
Para que, na verdade,
Considerem iminente, necessário e sublime
O teu inquestionável direito à igualdade?

Edição
3976

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