A opinião de ...

O dual Otelo

Noutro texto no qual teço opiniões referentes a Otelo a propósito da sua morte ocorrida há dias aponto Janus ou Jano divindade romana possuidora de duas faces viradas em sinal contrário. Nunca apreciei a duplicidade do estratego operacional do 25 de Abril, nos primeiros tempos a seguir ao triunfo por que enfunou estrídula jactância logo no acto em que lhe foram colocadas as estrelas sobre os ombros, posteriormente e até ao 25 de Novembro de 1975, dada a sua constante fanfarronice cujos efeitos foram provocar medo, angústia e até fuga de inúmeras pessoas da sua Pátria.
Os comunistas desde logo traçaram euforias relativas ao «General» Otelo pois a sagaz raposa Álvaro Cunhal conhecia bem o pensamento leninista sobre a doença infantil do esquerdismo, não se deixando embalar na toada do émulo caseiro do Che Guevara mandante de centenas de fuzilamentos sem julgamento na ditadura revolucionária de Cuba. Por seu turno os «meninos rabinos» do MRPP não se coibiam de mimosear Otelo com epítetos que o enfureciam a ponto de ordenar a prisão dos seus militantes, caso da mediática Maria José Morgado, Saldanha Sanches seu marido e muitos outros tendo escapado o educador do povo, o camarada Arnaldo Matos remetido à clandestinidade.
Noutros círculos políticos de onde militava brandamente apanhavam-se olhares de mofa quando alguns colocavam reticências ao comandante do COPCON (centro de prisões arbitrárias debaixo de mandatos de captura por ele assinados em branco, além de outras ordens lesivas da recém-conquistada liberdade).
Muitos «rapazes» da esquerda bem-pensante gritavam vivas ao homem do comando da Pontinha, desculpavam-lhe as atoardas consideradas vanguardista naqueles tempos de PREC, mesmo estudiosos da obra de António Gramsci apoiavam-no até desembocarmos no 25 de Novembro. Nos meios militares no miolo do Grupo dos Nove existiam grandes amigos de Otelo (Eanes, Melo Antunes e Vasco Lourenço, entre outros), no entanto, na hora da verdade opuseram-se-lhe de maneira contundente.
Dissipadas as veleidades de Caudilho o oficial Otelo deitado sobre o colchão de votos obtidos nas eleições presidenciais, diariamente objecto de lavagens ao cérebro por elementos radicais embriagados pela vulgata dos movimentos adeptos do terrorismo contra o Estado meteu-se terrenos apertados (assim se diz no Ribatejo) contemporizando com crimes de sangue manchando de modo medonho tudo quanto tinha executado de bom até ali.
Preso, julgado e condenado acabou em liberdade mercê de um indulto, não tardou em rufar tambores de sons ocos, não tardou a pretender reconquistar a aura perdida, não tardou a passar à categoria de semióforo deslustrado.
Para lá da face mal escanhoada, repleta de pústulas execráveis, a outra face exibe a felicidade de ser arauto cimeiro da nossa primacial e insubstituível LIBERDADE.

Edição
3844

Assinaturas MDB